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Inteligência artificial vai substituir 80% dos empregos manuais, diz pesquisador

Americano nascido no Brasil, Ben Goertzel, um dos criadores do termo "Inteligência Artificial Generativa" (IAG), palestrou no Web Summit, do Rio de Janeiro, onde apresentou robô enfermeiro

Eugenia Logiuratto, da AFP | Rio de Janeiro
#TECNOLOGIA6 de mai. de 234 min de leitura
Ben Goertzel apresenta no WebSummit Rio o robô Desdomona, baseado em inteligência artificial. Foto: Mauro Pimentel/AFP
Eugenia Logiuratto, da AFP | Rio de Janeiro6 de mai. de 234 min de leitura

Nos próximos anos, a inteligência artificial (IA) poderá substituir "até 80%" dos empregos e isso "é algo bom", provoca o cientista americano Ben Goertzel, destacado pesquisador sobre o tema. 

De cabelos longos, estilo informal e chapéu com estampa "animal print", este matemático nascido no Brasil desperta a atenção em conferências como a Web Summit do Rio, onde apresentou, esta semana, a última versão de seu robô humanoide Grace, uma enfermeira criada para cuidar de idosos em asilos e hospitais. 

Responsável por cunhar o termo "Inteligência Artificial Generativa" (IAG), aquela com habilidades cognitivas humanas que ainda não foi desenvolvida, Goertzel, de 56 anos, disse em uma entrevista à AFP que faltam apenas alguns "anos" para isso acontecer. E defendeu que esse futuro sistema seja administrado de forma descentralizada e democrática, objetivo pelo qual fundou e dirige a plataforma SingularityNET. 

AFP – Quanto tempo falta para termos uma inteligência com habilidades cognitivas humanas? 

Goertzel – Se queremos máquinas que sejam realmente tão inteligentes como as pessoas e tão ágeis para lidar com o desconhecido, precisamos que sejam capazes de saltos ainda maiores em seu treinamento e programação. E ainda não conseguimos. Creio, porém, que há motivos suficientes para pensar que não faltam décadas, mas sim anos. 

AFP – O que pensa sobre o debate em torno do ChatGPT e seus riscos? Os pesquisadores deveriam parar por seis meses, como alguns defendem? 

Goertzel – Não acredito que devemos parar, porque não se trata de uma IA super-humana perigosa. Não pode fazer raciocínios complexos de várias etapas, como requer a ciência. Nem inventar coisas novas fora do âmbito de seu treinamento com uma base de dados. Há quem diga que deveríamos parar as pesquisas porque esses sistemas podem disseminar a desinformação. Não concordo. Por que não proibimos a internet, que faz exatamente isso: coloca uma grande quantidade de informação ao alcance das suas mãos, e distribui também todas as mentiras e desinformação? Acredito que devemos viver em uma sociedade livre, e assim como a internet não foi proibida, não deveríamos proibir isso. 

AFP – O potencial da IA para substituir empregos não é uma ameaça? 

Goertzel – Com sistemas da mesma natureza do ChatGPT que vão surgir nos próximos anos, minha suposição é que provavelmente cerca de 80% dos trabalhos manuais se tornem obsoletos. E isso sem a necessidade de criar uma IAG. Não a vejo como uma ameaça, mas sim como um benefício. As pessoas poderão buscar melhores coisas para fazer, ao invés de passar a vida trabalhando. Praticamente todas as tarefas administrativas poderão ser automatizadas. 

"O problema que vejo é o período de transição, quando as inteligências artificiais começarem a tornar obsoleto um trabalho atrás do outro. Não sei como resolver esses problemas sociais."

AFP – O que os robôs podem fazer hoje pela sociedade, e o que poderão fazer no futuro, com a IAG? 

Goertzel – Podem fazer muitas coisas boas. Um exemplo é a Grace, a enfermeira robô. Muitas pessoas nos Estados Unidos estão sozinhas em asilos. E, ainda que tenham atenção médica, alimentação, TV, elas tendem a ser insuficientes em termos de apoio emocional e social. Se forem introduzidos nesses espaços robôs humanoides que respondam suas perguntas, escutem suas histórias, os ajudem a fazer ligações para os seus filhos ou a fazer pedidos na internet, se estará melhorando sua vida. Quando a IAG existir, se tornarão, então, acompanhantes melhores. Nesse caso, não está eliminando empregos, porque não há pessoas suficientes que queiram trabalhar como enfermeiros ou cuidadores de idosos. A educação também seria um mercado incrível para os robôs humanoides, assim como o trabalho doméstico. 

AFP – Como deveria funcionar a regulação para que a IA tenha um impacto positivo? 

Goertzel – A governança dessas tecnologias deveria ser, de alguma forma, participativa, envolver a população. E tudo isso é tecnicamente possível. O problema é que as companhias que estão financiando a maioria das pesquisas em IA não se importam em fazer o bem. Importam-se em maximizar o seu valor para os acionistas.

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